Sabes, quem me dera conseguir sugar-te a razão e dizer-te que sou eu a tua salvação. Que sou eu quem poderia proteger-te do mundo e de tudo, que ninguém te magoaria no meu colo. Quem me dera ter a certeza que era comigo com quem tu serias sempre feliz, que não existe melhor que eu. Que eu era o paraíso na terra, e que em mim serias a pessoa mais importante do mundo. Quem me dera poder salientar que se te juntasses a mim seríamos um só, que não existiria mais dúvidas que te raspassem as linhas da tua memória. Que comigo viverias um sonho, e sem mim não terias nada. Quem me dera que viesses já para mim e me desses ouvidos. Que corresses para o meu colo e me aquecesses a alma. Que visses que quando olho para ti és tudo o que eu quero e desejo. Que sofro com a ideia de quase nunca podermos criar um só coração. Eu já desenhei um coração só nosso sabias? Tão bonito que ele ainda está, o seu vermelho vê-se lá no fundo, até na outra margem do rio o conseguiria ver. Quem me dera que seguisses também a borda do meu olhar, e que conseguisses ver que o meu corpo desfalece quando não sente o teu cheiro, que o meu olhar desvanece quanto prevê que hoje não vens. Não podias ter efeitos especiais? Ler-me o pensamento como os vampiros? Não podia o teu coração seguir quem te segue? Era tão mais fácil localizar-me. Mexe-te, mexe-te. Repara que é comigo que a tua mão se completa, que o teu olhar se avivava muito mais comigo. Não nos imaginas a sermos felizes? Eu imagino. Fossemos os dois um só, fossemos como a química, como a matemática, como a filosofia. Fossemos tudo o que sempre quisemos. Fossemos a inveja de muitos e a alegria dos nossos corações. Fossemos o vento, e voarmos. Voarmos para o nosso próprio céu. Não importa. Fossemos, fossemos eu e tu, fossemos a chuva que passa lá fora, fossemos tudo, fossemos nós! E isso chegava.

Quem me dera que um dia destes abrisses realmente os olhos, e percebesses que pode estar a ficar tarde.